21 de jan. de 2011

OH, love!

Ela virou-se no seu colchão velho. Sentiu aquele cheiro azedo. Abriu os olhos e levantou-se. Foi direto para o banheiro. Muitos cremes, muita hidratação.
Um ronco insuportável vem do quarto. Ele é tão jeitoso como um velho porco.
Ela se veste, põe o seu melhor vestido, o salto mais alto e os brincos amarelos.
"Vou buscar pão, querido", diz sussurrando entre os assovios e bufadas do marido.
Lá está ele. Vinte anos mais jovem. Lindo e limpo. Ele não deve roncar, não tem barriga de cerveja e não cheira a cebola. Ele é simpático e escova os dentes.
Não consegue parar de sorrir. Simplesmente é inevitável.
Entra em um dos corredores e ajeita o decote. Mexe no cabelo e arruma a postura. Então sai deslumbrante em direção ao caixa.
E sorri.
"Obrigada por comprar aqui, senhorita", diz o menino simpático.
Então ela paga e vai embora, sentindo-se trinta anos mais jovem.
Vai lavar a louça suja que está na pia.
O grande porco acorda e vai se alimentar.
"Por que toda essa felicidade?", ele pergunta.
Ela olha para o ogro sentado em sua mesa, com as mãos e a boca lambusadas de manteiga, a barba preta molhada pelo café e as unhas por fazer.
E antes que possa sentir nojo do que vê, imagina o garotão da padaria. E sorri. Simplesmente sorri.

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