24 de mar. de 2011

A si,

Apenas um sorriso. A vidraça de uma vitrine inibia, em parte, a beleza que encontrava-se do outro lado. Imaginava fragrâncias e sons. Sorria e recebia o mesmo em troca.
Passou a visitar a menina todos os dias. Trocavam olhares, sorrisos. Compartilhavam em pensamentos os mesmos ideais e gostos. Tinha certeza que ela odiava os Rolling Stones, Mamonas e suco de limão. Sabia também que a moça cujo os olhos não desgrudavam sequer por um momento dos seus conseguiria protestar sobre o tamanho das xícaras e como elas queimam as mãos no verão.
Tudo era intensamente maravilhoso. Não pensava em mais nada senão na menina. Era sua sina, sua perdição. A qualquer coisa que debitasse tempo, descontava de qualq uer outra tarefa a ser feita, para ainda viver os 10 minutos mais esperados do dia.
Com o tempo os 10 passaram a ser 20, e os pensamentos e as idealizações já não lhe eram suficientes para sanar a sede. Foi então que decidira adentrar na loja a procura da donzela.
Uma, duas, três ou até mesmo quatro vezes. Todas em vão. Sempre que desviava o olhar da vitrine para entrar, a garota sumia.
O tempo passava e cada vez mais a esperança de um encontro real diminuía. Com tudo isso, vieram as indagações.
“Há outra pessoa em sua vida? E se há, o que significaram todos os sorrisos? Seria tudo apenas por vergonha?” – pensava, pensava e pensava, sem conseguir encontrar solução alguma.
A cada dia, sentia-se em maior desolação. Do lindo sorriso, não via-se nem mesmo traços de qualquer felicidade.
A menina da loja passara a mostrar-se cada vez menos alegre. Já não lhe sorria mais nem mesmo por um segundo.
Os dias passaram, os meses foram mudando com as estações e pelo mundo afora milhares de casais separaram-se e uniram-se, milhares de vidas iniciaram e encerraram-se. Vira muitas vitrines, porém evitara manter os olhos em qualquer uma.
Mas, por ventura do destino ou intermédio de deuses, acabara por pregar-se em um pequeno espelho velho e sujo de seu banheiro. E ali, entre as manchas e a poeira, vira a garota da vitrine, com os olhos cansados, os lábios marcados e a juventude já gasta. Só então, naquela fração de vida, percebera que sua maior decepção no amor, fora firmada nela consigo mesma.

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