28 de mar. de 2010

Etiquetas

Se você procura um texto polêmico tomado por frases de duplo sentido, ou então um daqueles diários irônicos que se faz quando está com raiva, troque de canal.
Não sou boa em argumentações, nem em contar fofocas de um grupo famoso que apareceu no youtube. Sinceramente, meus textos não servem para nada. Bom, nada além de passar meu tempo vago.
Acho que minha mente anda um pouco dispersa. Nada de contas matemáticas, nem capitulos da novela das 8. Só mundos distantes, perguntas sem sentido e frases sem concordância verbal ou nominal.
Temo. De repente descobri que sou tão tola quanto qualquer outro que arriscou escrever sobre algo que não sabia.
Não sei. Tinha certeza do que pensava e então, em um piscar de olhos, uma ventania levou tudo que tinha. Na ampulheta da vida, minha areia começou a passar para o outro lado. Bela obra do tempo.
Acho que quanto mais crescemos, mais perdemos o que é nosso. Não materialmente, mas nossos valores, nossos medos, nossos sonhos. Deixamos de lado tudo aquilo que parecia dificil. Dissemos que aquilo era tolice. Que não valia a pena.
Descobri que o fracasso sempre se disfarça de indiferença, desinteresse e falta de tempo.
Descobri que quanto mais crescemos, mais tolos ficamos. Perdemos tempo por dinheiro e dinheiro por etiquetas. Meras etiquetas.
Você batalha uma vida inteira, e então, quando finalmente está na hora de aproveitar, você descobre que simplesmente não tem nada. Não teve tempo para construir amizades, nem para cuidar do cachorro. Não teve tempo para rir das piadas insanas que te enviaram por e-mail, nem chorar por alguém.
Você olha para trás e descobre, que não viveu. E aí, uma pergunta aparece em letras grandes e brilhantes: "O que eu fiz nesse tempo todo?"
E a resposta te decepciona. Você trabalhou duro. Lutou e venceu outras pessoas. Passou por cima de valores para subir de cargo. E pq tudo isso?
Tudo isso para ter mais dinheiro. Mais dinheiro para comprar mais e mais etiquetas.

Aí, você foi pendurando-as em si mesmo. Trocando uma aqui e outra ali.
Mas sabe, chega um ponto em que ninguém mais vê nada além de etiquetas. Ninguém mais vê você.

É nessa hora que você descobre que poderia ter sido mais feliz sem nada daquilo. E que o trabalho duro, na realidade não serviu para nada além de escondê-lo.
Esconder todos os sonhos que você não teve tempo para viver. Esse tempo que você gastou comprando etiquetas, para não precisar enfrentar o medo do fracasso.
No final, você simplesmente percebe que sua vida não passa de uma etiqueta velha.
Aquela que trocaram na semana passada.

21 de mar. de 2010

Simplicidade

Um olhar discreto, um sorriso escondido por trás das mãos, uma cor rosada no rosto envergonhado
Uma flor amarela no jardim, uma estrela nova no céu, uma nuvem em forma de avião
Um calafrio de manhã cedo, um bocejo, uma palavra dita errada
Uma caixinha de papel, um pedaço de jornal, um aquário velho
Um relógio sem pilhas, um duende de barro, uma toca de Papai Noel
Uma pena branca, uma gota d'água, uma carta de amor
Um lápis, uma folha seca
Sem detalhes, sem importância
Não me faz falta, não me traz nada além de lembranças
Não tenho medo, não tenho amor, não tenho dinheiro

Nada disso me satisfaz
Quero mais, sempre mais do que posso ter
Mas e então, no meio dessa confusão

Perco tudo que me alegra.

Nessa solidão, talvez viesse a calhar esse teu sorriso sincero
Essa vergonha discreta,
Essa simplicidade bela que me deram.
E o teu relógio sem pilhas me indica que o tempo para,
Toda vez que esqueço de olhar as horas.


Só não para,
Senhores,
só não para esse tempo de viver.

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