14 de mai. de 2010

Alvorecer


Havia uma neblina que pairava sobre todos os infelizes seres que transitavam pelas ruas naquela manhã.



O sol estava escondido em qualquer lugar, onde ninguém pudesse nota-lo. Eu ainda imaginava-o radiante, absorvendo todos meus medos, angustias, tristezas e problemas.


Uma brisa ainda tocava-me de leve, enquanto perdia-me nos planos inacabados e nos sorrisos esboçados que recebi.


Eu estava no mesmo lugar, com as mesmas pessoas, mas de alguma forma, naquela manhã tudo estava diferente. Tudo estava sombrio e triste.


Fui seguindo meu trajeto já passado e repassado tantas vezes, como se pisasse em território novo.


Na esquina, um cachorro marrom dormia encostado no muro vermelho, já corroído pelo tempo. Atravessei sem olhar, e para meu doce azar, a senhora do Palio branco não me avistara.


Um centímetro. Nada mais.


Os pneus soaram em atrito com o asfalto. Um centímetro apenas de mim. O pequeno cãozinho que adormecia, acordou-se em um pulo só. Acoado, correu para longe, desaparecendo na neblina.


Dei um passo e cheguei na calçada. O carro manobrou e foi embora.


Fiquei ali, perplexa. Como se o mundo tivesse acabado para mim. Naquele momento, sentia-me sendo sufocada com uma renda branca e coroas de flores, tão lindas quanto pudessem ser produzidas.


Um aperto no coração me fez derramar tímidas lagrimas, que foram desenhando em minha face o medo, a dor, a tristeza.


As pessoas que haviam parado sua pressa, procuravam em mim marcas de sangue. Bisbilhotavam cada centímetro de meu corpo, procurando emoção. Ao final, descobriram que tudo terminara bem. Aos poucos, foram virando-se e seguindo em frente.


Agora e só agora eu podia compreender. O mundo não estava diferente, eu quem havia mudado.






As pessoas com quem me preocupara, os motivos pelos quais procurei satisfazer olhares críticos sobre mim, agora desapareciam com a neblina.


O alvorecer parecia-me mais belo e vívido do que qualquer outro. Fui seguindo firme. Ao meu lado, caminhava alegremente, um guaipeca marrom, que cansara de dormir. Sorri sinceramente, e ele para mim. A brisa que tocava meu rosto, agora viera para acalentar-me em seus braços mundanos.

2 de mai. de 2010

Crescendo

Preciso crescer.
Eu sei disso. Ouço todo dia. O tempo todo.
Amadurecimento, é disso que precisamos.
Mas, e quando isso tem se tornado sinônimo de "TRISTEZA, CETICISMO, DESCASO, DESORDEM, FALTA DE TEMPO", será que ainda estamos falando realmente em MELHORIA?

Desculpem-me os crescidinhos de plantão. Mas ultimamente , descobri que tem muita criança por aí que administra sua vida MUITO MELHOR que os adultos, por assim dizer.
Eu assisto Chaves, Pateta, Pantera cor de rosa.
Eu acredito em principe encantado, que os sonhos se realizam e que produção não substitui talento.
Eu acho que posso mudar o mundo escrevendo textos infantis num blog sem noção. E que de repente o mundo vai produzir "anticorpos" capazes de curar a doença mundial, que é o egoísmo.
Eu tenho medo de filme de terror. Eu não gosto do escuro e durmo com um ursinho de pelúcia.
Dou nome pra todas as minhas coisas e uso tênis colorido.
Eu fico rindo quando não tem graça e acho que essa politicagem toda é perda de tempo.
Talvez isso seja realmente infantil.
Mas...
acho que sou feliz,
e pra mim, felicidade é sinônimo de SEGURANÇA,
que consequentemente nos guia corretamente ao melhor caminho.


-E se ao contrário de fazermos compras, doassemos comida?
O mundo não mudaria - dizem os crescidos.
Tudo bem,
o SEU mundo talvez não mudasse,

mas com certeza,
quem recebe
NUNCA esquece.


Beijinhos:*
Porque será que todo mundo sonha em ser feliz, fazendo o contrário?

É divertido apontar o dedo pra alguem,
quando há milhões fazendo isso...

mas,
e quando esses milhões, te indicam?
Hoje estou com vontade de tomar sorvete de chocolate

ahn,

com café.

:D

Como espiral


Eu tenho medo do Sr. Fracasso.
E só de pensar em suas longas e afiadas garras, seus olhos negros temerosos e seu odor espalhando medo pelos corredores da escola, me arrepio. Está sempre à espreita, em silêncio, esperando que pouco a pouco, um a um entregue-se ao descaso, ao desinteresse. Ele nunca ataca.

Apesar da aparência horrenda que possui, o Sr. Fracasso jamais induziu qualquer homem ao seu domínio.
Esse é o trabalho da Dona Ignorância, do Dom Egoísmo e do Ceticismo. Todos agem juntos.
Primeiro, um homem de boa vida, bom sonhos encontra um bom emprego com bom salário. E aí, os degraus são pequenos para tamanho talento e dedicação.
Ele vai subindo, subindo, subindo e se torna o CHEFE. O poder lhe sobe a cabeça, e então, a Dona Ignorância sai de trás do armário, sorrindo-lhe amigavelmente.
Ela tem uma voz doce e sedutora. Lhe induz, lhe indaga, lhe carrega para sua venenosa teia. O homem,já perdido em seus pensamentos, passa então a conhecer o D. Egoísmo.
Este lhe trata como um rei. Mostra-lhe a todo momento, o quão superior é de todos os outros meros seres humanos. E por fim, o Ceticismo aparece, com suas risadas irônicas, seus dedos entrelaçados sobre os papéis brancos da mesinha do escritório.

Ele ri de você. faz com que acredite que sonhar é tolice, uma besteira inalcançável. O importante mesmo são as metas, os números. O que importa é o resultado, o dinheiro.
Você passa a ir mais cedo para o trabalho e a sair mais tarde. Aos poucos, você se afasta dos amigos, porque, eles são inferiores à sua capacidade e dedicação.
Corre, corre, corre!
Um ciclo interminável de trabalho-dinheiro se inicia.
Meus parabéns! - diz em frente ao espelho, observando as olheiras e expressões cansadas- Você é o funcionário do mês!

E então, pendura uma foto sua, sorrindo cansadamente, na parede branca do escritório.
O cheiro de café misturado com o insenso de canela, toma conta do local. Você precisa se manter acordado. Dormir é perder dinheiro.
Você trabalho, incansavelmente, dia após dia. E então, na décima noite em claro, seus olhos se unem, e você adormece sobre os relatórios da empresa.
Na outra manhã, é acordado aos cutucões pelo chefe. Está demitido. Provocou perda de dinheiro para a empresa. Outro novo funcionário tomará o seu lugar.
Você olha para ele e pensa em si mesmo. Mal sabe este pobre homem quantas noites irá perder pelo maldito dinheiro no fim do mês. Talvez devesse avisá-lo, mas, pensando bem...
isso estragaria o ciclo produtivo da sociedade.

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