24 de jan. de 2011

Adorável Joe - parte 2


- Vai acampar com a gente esse ano?
-Nem pensar, Carl...
- Cara, você é mesmo patético!
Todos os anos, os garotos se reuniam para acampar, beber e dançar nus em volta de uma fogueira, na floresta. Dessa vez não seria diferente. E Joe não agüentaria ver Carl sem roupa mais uma vez.- O que vai ficar fazendo aqui?
- Muitas coisas...
Nada.- Tipo...?
- Assistir Friends...
Para Carl, qualquer programa que fosse ao ar sem alguém nu, era definitivamente um programa feminino.
Joe não era exatamente o tipo de cara sensível. Odiava o amor e seus envolvimentos. Para ele existiam apenas duas coisas no mundo: seriados de televisão e sexo.
- Hora de ir! Tchau Carl...
Eram seis e vinte e oito da tarde. Em dois minutos, as televisões da loja de eletrônicos transmitiriam o comercial de Friends. Todos os dias Joe parava em frente à vitrine para assisti-lo.- Adoro Friends...
O comentário vinha de uma voz feminina. Joe não desgrudou os olhos de um dos televisores até o comercial terminar.- Eu sempre assisto esse comercial.
Só então olhou para a garota.
Olhos castanhos, cabelos anos 60, magra, baixa. Nada que encantasse Joe.
- Está vendo aquela vendedora ruiva? –disse Joe, com ar de deboche.
- Sim, estou.
- Ela também gosta de Friends.
- Como você sabe disso?
- Sempre a vejo perto dos grandes televisores. Ela é esperta.
E foi ali mesmo que tudo começou. A garota riu da gracinha de Joe. E Joe não pudera deixar de notar como ela era linda quando sorria.
Ele simplesmente não podia parar de olhar para aquele sorriso.
- O que foi? – perguntou a garota.
Ela era linda. Extremamente linda.
Joe percebeu que estava encantado deveras para uma noite com a garota. Precisava ir embora.
-
 Até mais. – disse ele.
A garota entrara no barzinho. E Joe fora para casa.
Já estava encrencado. Era tarde demais para resistir. Ele sabia que não esqueceria daquele sorriso. Ele queria vê-la de novo.
- O amor não existe, Joe. Pare com isso. – dizia ele, andando em círculos pela sala.
Pela primeira vez na vida, o garoto distante que dormira com metade das mulheres da cidade, que assistia Friends pela vitrine de uma loja e ia até um barzinho apenas para ver um homem, estava com medo de uma mulher. - Ai Jesus! – gritou Joe, levantando apavorado da cama.
Aquele maldito sorriso agora não estava apenas em sua mente. Estava em seus sonhos.
Talvez devesse tomar um leite e relaxar.
- Ai Jesus! – gritou Joe, olhando para a caixa de leite.
Na lateral da embalagem havia uma menina com um balde de leite. Ela sorria. Sorria como aquela garota.
Estava mesmo muito abalado. Uma música ajudaria a esquecer daquela loucura.
I can't smile without you (não posso sorrir sem você) – dizia o vocalista da música.
-Ai Jesus! –gritou mais uma vez Joe, desligando o rádio desesperado.
Estava enlouquecendo. Não conseguia mais dormir, comer ou ouvir música. Não conseguia fazer mais nada sem lembrar daquela garota.
Até mesmo o gato sorridente que escorava a porta do quarto fazia-o pensar nela.
- Pare de sorrir tanto. Você não está feliz! Pare de sorrir! – disse Joe, apontando o indicador para o gato, em tom ameaçador.
Aquele sorriso ecoava dentro da mente.- Não vai parar? Então tudo bem, vamos tomar medidas drásticas! – disse, desencostando-se da parede e virando o peso da porta para o outro lado.
-Pronto! Vai sorrir agora? – disse em tom de deboche, para as costas do pequeno gato azul.
Uma noite com a garota não o mataria. Só assim ele tinha chances de esquecer daquele maldito sorriso.

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