2 de dez. de 2010

Toque, amor e pecado;

Ela abriu os olhos. Ele estava lá, sentado sobre a cama, calçando os sapatos pretos de couro.
Então sentiu-se uma paz. Um conforto, uma sensação de necessidade, uma idéia afetuosa. Os olhos encontraram-se entre a gravata e o escovar de dentes. Ele sorriu. Ela tentou sorrir, porém a espuma branca do creme dental tornara a visão engraçada.
Caíram na gargalhada.
Uma sensação de bem-estar. Algo que ela nunca havia sentido antes.
Estava tudo pronto. O apartamento ficara sozinho, enquanto cada um seguia o seu caminho. Sabiam que nunca mais voltariam a ver-se. Fora uma noite maravilhosa, afinal.
Vinte e quatro anos, ensino superior completo, formada em artes cênicas. Nenhum animal de estimação, incluindo os homens. Laine. Laine Stipson. A mais jovem garota de programa do bairro.
Era desprovida de curvas, olhos azuis ou cabelos loiros. Porém, possuía um encanto indescritível. Uma sede de amor nos olhos, uma confiança e uma fragilidade tamanha.
Carlos era um empresário importante. Estava noivo de Alice. Era o tipo de homem perfeito. Jamais pensara em trair a mulher. Nunca havia nem ficado depois do expediente, para tomar algo no barzinho da esquina.
Naquele dia, porém, resolvera fazer uma surpresa para a noiva, e levar-lhe rosas brancas –as prediletas da dama.
A floricultura ficava perto do escritório, no caminho de casa.
Mas haviam outras flores que encantaram Carlos. Mais precisamente a garota debruçada sobre o balcão. Segurava um lírio na mão esquerda. Sua flor predileta. A única que Alice detestava. A única que Carlos realmente apreciava.
Não fora pelos lírios que o jovem empresário se interessara. A moça tinha olhos que o faziam arder por dentro. Uma sensação nova, que balançava sua vida monótona.
Laine virou-se devagar, e inesperadamente, cumprimentou-o com um sorriso doce. Não pensara nem duas vezes. O coração disparara no peito.
Ela foi seguindo seu caminho; ele ficou a acompanhá-la com os olhos. E quando estes já não eram suficientes para observá-la, sentiu os pés movendo-se em sua direção.
Fora a primeira vez que abordara uma garota de programa. Fora a primeira vez que não voltara para casa depois do trabalho.
O dia surgiu e Laine precisava seguir sua vida. Haviam outros a esperando. Carlos sabia que precisava voltar para casa. Mas nenhum dos dois queria. No fundo, ambos sabiam que poderiam ficar ali por toda a vida, apenas olhando-se nos olhos. Apenas sentindo um ao outro.
Mas uma garota de programa jamais se apaixona verdadeiramente. E um bom moço, nunca abandona a noiva no altar.
Foram escolhas. Apenas escolhas...

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