4 de out. de 2010

querida Amy,



Sobre a cabeceira da cama, um terço velho tilintava contra o vidro. Mais a esquerda, sobre o criado-mudo uma fotografia trazia-me o amor novamente. O vestido cor de rosa de Amily estava suspenso em um pequeno cabide no guarda-roupa.



“Ficaria lindo em você, meu amor”-pensei em meus mais remotos desejos.


A brisa tocava meu rosto levemente, acalentando-me devagar com suas mãos macias e seu canto triste. Eu podia senti-la comigo.


O céu estava de todo azul celeste, e não havia uma nuvem sequer para ameaça-lo à escuridão. Teria sido um bom dia para caminhar pelo parque. Teria sido um bom dia se Amily ainda estivesse aqui.


Dois passos para trás e um homem. Quem haveria de ser justamente naquele dia?


Era John. John Ruster. O jardineiro da casa. Ele sempre sorria. E às vezes seu sorriso lembrava-me minha Amy. Tão doce, sem preceitos, sem maldade, sem vida hoje. Imaginava-a sempre. Em todos os lugares, durante todos os dias de minha vida. John era um bom homem, mais jamais a substituiria.


Nunca pensei que tudo poderia acabar dessa forma. Nunca imaginei que as pessoas fossem cruéis a tal ponto.


Ainda que fossemos diferentes, ainda que nos mantêssemos de pé, sabíamos que eles nos esperavam com suas foices desesperadoras, e suas palavras malditas. Sabíamos que o mundo era impossível. Mas acima de tudo, seria completamente inviável não tê-la.


Os dias tem sido negros desde então. De vez, ainda posso ouvir os gritos de pavor daquela noite. Os sussurros de Amy em meus braços, pedindo-me para guarda-la bem.


Eu poderia ter gritado, protestado, julgado-os, mas no fundo, no fundo eu sentia-me mais acuada ainda. Trepidava ao pensar nos julgamentos e nas ameaças. Sentia calafrios que percorriam pela espinha, pedindo-me paz. Pedindo-me Amily.


Nada a traria de volta. Ninguém sorriria como ela. Ninguém levaria-me rosas brancas pela manhã.


Eu poderia ter pedido a morte. Mas, a morte traria-me Amily? Eu sabia que não. Sabia que cobriria-me com seu manto negro, levando de mim todas as nossas lembranças. Levando-a ainda mais de mim.


Viveria por ela. Para ela. Sem ela.


Amaria por ela. Para ela. Com ela. Por toda eternidade. Até que o tempo levasse de mim a memória. Até que o último ipê secasse, eu continuaria ali, sorrindo para você.

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