16 de out. de 2009

Reminiscência






Os olhos acenderam-se como chamas de fogo, vibravam de felicidade ao ver imagens perdidas bem à sua frente. Um tom nostálgico tomava conta do pequeno apartamento em Campinas, onde Liliana dividia seu espaço com caixas e papéis antigos.


Passara semanas mexendo nas caixas de papelão, à procura de um documento que guardara antes da mudança. Talvez por obra do destino, ou simplesmente do acaso, encontrara uma foto envelhecida, já rasgada, de Leonardo, um garoto da escola, pelo qual fora apaixonada durante seis anos.


Apesar de possuir uma péssima memória, ela ainda lembrava-se do dia em que o vira pela primeira vez. Estava na porta da sala de aula, esperando Jimmy, seu melhor amigo, quando o viu passar pelo corredor, seguindo para a sala do fundo. Encantara-se não pelo seu andar, sua aparência ou seus lindos cabelos, mas sim pelo livro de terror que carregava cuidadosamente consigo.


Havia lido tantas vezes aquela obra, que poderia dizer as falas da personagem principal, e descrever o cenário todo. Não concentrara-se em mais nada naquele dia. Esperou no corredor até o ver novamente, seguindo-o com o olhar até onde podia alcançar. Ele nunca a vira. Não a conhecia, nem sabia seu nome. Não sabia seu signo, nem sua idade, mas ela nunca levara isso em conta. Sabia descrever cada fio de cabelo que ele possuía, sabia de seus gostos, idéias, vergonhas e atrações.


Foi assim durante os quatro anos do colegial. Ele lia, se divertia, e ela o observava de longe, bem longe. Nunca tomara coragem para dirigir sequer uma palavra a ele. Sentaram-se uma ou duas vezes um ao lado do outro, mas isso não passou de alguns olhares e risadas sem graça.


Apesar de conhecê-lo só de longe, sentia-se feliz toda vez que passava, mesmo sem olhar ou que dirigia-se a alguém que estava na mesma direção que ela. Mas um dia o sonho tem que acabar, porque ninguém pode sonhar para sempre. Isso aconteceu no final do terceiro ano, quando ela mudara-se para a capital, a fim de prestar vestibular para Literatura.


Para amenizar a saudade daquele sorriso, mandara revelar uma foto que batera dele enquanto fingia estudar para a prova do dia seguinte. Com o passar do tempo, as lembranças foram ficando para trás, e ela esquecera-se daquela foto em um cantinho embaixo da cama.


Agora tudo estava ali, vivo de novo. Por onde ele teria andado esse tempo todo?


Sentiu um aperto no coração, segurou firmemente a foto entre os dedos. Calmamente, seguiu até a lareira na sala.


Sua alma gritava, mas a razão tomou coragem e exaltou-se. Soltou a foto em direção ao fogo. Foi a última vez que viu Leonardo na vida.


Do outro lado do país, a foto de uma garota tímida encorajava secretamente um homem inseguro.

6 comentários:

  1. Tomar decisões,ter iniciativas,seguir seu objetivo...nossa,estava faltando tudo isso para Liliana...mais me pergunto...quando vc escreve essas histórias,eu tenho absoluta certeza de que não são personagens que vc cria inspirado em pessoas á sua volta...e sim,são marcas suas que estão gravadas por de trás de seus personagens...só não entendo uma coisa...vc quer que seu destino, seja o mesmo que o deles?



    AnõnimoR.

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  2. Bom, aí entra uma questão dificil de ser discutida. Qualquer texto que for escrito por uma determinada pessoa terá com toda certeza a sua própria marca em relação às situações e sentimentos..porém, em certos momentos eu me inspirei em outras pessoas e casos que conheço.
    E respondendo a sua pergunta: não, eu não quero que meu destino seja esse..
    Outras questões bem diferentes da vida de Liliana entram em jogo. Não pode-se julgar o autor somente por sua obra meu caro anônimo. Somos bem mais do que falamos ou escrevemos, não acha? :D

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  3. Ah ! E quanto a personagem Liliana, acredito que se ela fosse uma "super mulher" cheia de certezas e iniciativas, estaria muito fora da realidade.. Afinal, quem nunca deixou de fazer algo por medo de rejeição que atire a primeira pedra!
    Meus textos tem a finalidade de mostrar algumas ocasiões em que nós temos a escolha de fazer ou não alguma coisa.. Quando as personagens tem atitude, coisas "incríveis" acontecem.. no entanto, se não fazem nada..é certo que não receberão um grande final.
    nada mais justo que isso! ;D

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  4. Então...vou te dizer uma coisa...realmente eu NÃO SEI o por que escrever histórias que não achamos um fim...eu sei que tu (...)ODEIA LIVROS QUE DÃO TUDO DE CARA(...) e talvez seja um dos motivos de você não dar aos seus leitores tudo de bandeja no início...mais acho que estou falando isso...por que eu (...)ODEIO LIVROS,HISTÓRIAS OU TEXTOS EM QUE NÃO ACHAMOS UM FIM(..)pois tudo tem seu FIM,nada é inacabado a não ser os números....mais eles não tem VIDA.

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  5. Seria ótimo se você colocasse seu nome no fim dos comentários, pq para ser sincera não sei quem está postando.. Bom, é um direito seu não gostar das minhas histórias, mas é uma questão de gosto.. as histórias não tem um fim DEFINIDO, mas pela caracteristica das personagens já podemos imaginar o que acontece a partir daquele "ponto final". :D
    Ah! agradeço por perder seu tempo lendo os textos :D e também por postar o que pensa sobre eles.. poucas pessoas fariam isso (:

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  6. "Bom, é um direito seu não gostar das minhas histórias, mas é uma questão de gosto.."
    Nossa..essa minha frase ficou horrivel !
    heheh vou arruma-la..
    "Bom, é um direito seu não gostar das minhas histórias, mas é uma questão de opinião. Assim como existem pessoas que detestam esse tipo de final, tbm existem pessoas que gostam."
    Obs.: Não repare se houver algum erro de português nos comentários.. (acontece!)..
    Como diz Fernando Anitelli: "Eu falo errado mas falo o que eu quiser" :D

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