15 de out. de 2009

Vagas memórias [baseado em fatos reais]


Ao movermos nossa mente para lugares e épocas distantes contruímos pouco a pouco uma mente repleta de memórias.

Memórias que permanecem por toda a vida, lembranças que serão brevemente contadas às jovens mentes curiosas, que continuarão o vasto círculo da vida.

Talvez minha avó jamais imaginasse que cada palavra sua tornava-se minha naquela tarde, e que sua memória ocuparia um lugar em minha mente. Quando as lembranças podem atravessar as barreiras do som, elas deixam de ser nossas e passam a ser do mundo, onde cada um transmite a vida através de singelas palavras.

"Tão puro era o ar que beijava meu rosto naquelas tardes de verão, trazia consigo uma paz inigualável, uma delicadeza que me fazia esquecer por breves minutos de todos os calos e machucados, de todas as dores e tristezas. Os vastos campos recheados de vida, tão cheios de desejos como mais ninguém notava, eram mais do que minha moradia. Eram minha vida."

Houve uma breve parada, como se a história tivesse sido apagada pelo tempo, como se restasse como consolo apenas curtos fragmentos da vida. Fui perdendo as esperanças, pensei que os relatos encerravam-se ali, no início. Palavras sem sentido saíram de minha boca apenas para romper o silêncio e então uma expressão diferenciada apareceu no rosto de minha avó.

"Talvez seja por essa pureza do campo que aqueles animais tenham aparecido ali. Seja esta ou qualquer outra a explicação correta, o fato está obviamente exposto. Aparecimentos como aquele vem apenas uma vez na vida, rapidamente, e se vão para sempre, levando um pouco de nós e nos deixando ricas lembranças, que nos acompanharão até onde nossa mente permitir."

A saudade abatia o sorriso contagiante de minha avó. Foi somente em consequência de outra breve parada que pude refletir na importância que aquele casal de "lobos ou cachorros" causaram em uma vida.

"Apareciam só à noite, brincavam e corriam pelo campo iluminado pela lua, depois sumiam e voltavam a aparecer somente no outro anoitecer. As balas dos caçadores jamais acertaram os ágeis corpos brancos, e o significativo aparecimento deles encerrou-se com o verão."

Vovó jamais voltou a vê-los. Desapareceram para sempre e tudo que restou foram suas lembranças.

As memórias às vezes levam parte de nossa vida para serem construídas, mas levam gerações para perderem-se no esquecimento.

Digo-lhes agora que as coisas encerram-se da mesma forma que iniciaram-se, sem motivo ou razão qualquer permanecem, nossas memórias, marcas de um tempo que nos acompanhará até o fim da vida.

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