16 de out. de 2009

Crença


As velas já estavam acesas ao pé da santa. Não havia ninguém na igreja naquela tarde, ouvia-se apenas ruídos de carros e pessoas pela rua, tudo estava em paz. Lembro que fiquei sentada até mais tarde na calçada, estava distraída e nem percebi o tempo passando.

Quando o sol cedia seu lugar à lua, vi pela primeira vez naquele dia alguém entrando na igreja. Era uma mulher jovem, tinha sobre a cabeça um véu de renda preto e entre as mãos um terço. Entrou rapidamente pela porta, ajoelhou-se aos pés da santa e agradeceu sua gravidez. Foi então que lembrei de seu Leôncio, um morador do bairro, que havia contado tempos atrás sobre a mulher que não conseguia dar-lhe um filho. Agora finalmente o milagre havia sido feito.

Foi naquele mesmo dia que o futuro pai foi avisado que todos os homens que não tivessem filhos pequenos deveriam partir urgentemente para as fronteiras do país, que preparava-se para um conflito com as terras vizinhas. Na ausência de Rita, e sem saber de sua gravidez, ele escreveu-lhe um bilhete contando o que acontecera e partiu.

Ao ler a carta, Rita entrou em pânico. Tinha dois possíveis caminhos: esperar que o marido voltasse do combate, ou ir até lá, arriscando a vida do filho que tanto esperara. Não pensou duas vezes, correu ao encontro de seu homem.

A viagem foi longa, mas depois de alguns dias, Rita encontrou milhares de corpos pelo chão. Estava sentindo a morte à sua volta. E então, de repente os olhos encheram-se d'água, e o corpo estremeceu. A um metro de seus pés estava a cabeça do marido. O corpo encontrava-se ensanguentado logo adiante. Sentiu vontade de partir para sempre. Rita era uma mulher forte, mas no entanto, não haviam motivos para continuar vivendo. A santa acolheu suas preces.

A cabeça e o peito esquentaram, sentiu o corpo estremecendo mais uma vez. Havia levado dois tiros certeiros do inimigo. A última coisa que viu foi o rosto do marido, que parecia sorrir-lhe amorosamente.

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