10 de fev. de 2011

Matinal,


Dois pés em um all star verde escuro, encostados na parede branca do corredor. A campainha toca dentro do apartamento. Dois pés em pantufas de porquinho vêm atender.



Entrelaçam-se, enquanto as bolinhas rosas ficam suspensas no ar. Então, voltam ao chão e tomam a frente para dentro de casa. Seguem para a cozinha.


A pequena xícara vermelha espera ansiosa dentro do armário. O bule, no fogão, anuncia a hora do encontro entre os dois. O café está pronto, e mais uma xícara pousa sobre a mesa.


Encostam-se, fervorosas, em uma espera pela água quente que virá. O vapor que sobe das duas canecas junta-se em um só para uma longa conversa apaixonada.


Sobre a mesa há uma revista e o jornal matinal. Parecem disputar pelo interesse de alguém. As unhas rosas aparecem para resgatar a magazine de fofocas e dicas de beleza, enquanto o dedos finos e longos juntam-se ao papel cinzento do jornal.


Na parede laranja da sala, o tic-tac do relógio tenta rebater o barulho do mundo lá fora. Conversas, buzinas, risadas. Televisões ligadas por toda parte anunciam os últimos acontecimentos e vão ao ar com um “bom dia” pouco caloroso.


O sol já deve ter nascido há tempo, mas de dentro do apartamento nem dá para notar. Os outros prédios ao redor escurecem a paisagem. Com o tempo, os porquinhos acostumaram-se com a luz da lâmpada e até esqueceram que havia outra.


Os ponteiros sobem e descem, parando na hora em que as chaves douradas rodopiam na fechadura. Uma mão delicada encosta a porta. Duas mãos distintas entrelaçam-se e somem pelo corredor.

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