9 de set. de 2010

angústia



E então, ela abriu os olhos devagar, e seu rosto pálido e enrubescido foi tornando-se maleável e doce. Aos poucos, as bochechas coravam e um sorriso acalentador iluminava-lhe a face.
Do outro lado do vidro, um homem de meia idade, com os olhos tristes e o corpo paralizado, observava cuidadosamente todos os movimentos na sala.
Estava nervoso. O coração acelerava de supetão, parecendo sair-lhe quase pela boca. De vez, um arrepio subia-lhe pela espinha, fazendo-o remexer-se rapidamente, com o nariz retorcido.
A garota já consciente, ao perceber a presença masculina fora da sala, enrubesceu. Os olhos cinzentos e tristonhos encontraram-se com os dele. As mãos enfaixadas juntaram-se rapidamente num gesto conjunto de dor e angústia. Uma expressão de pavor assumira a face doce da menina. Algumas lágrimas que borravam a alegria pintada da garota, eram impedidas com seus dedos finos e delicados.
Num súbito segundo de arrependimento, ele a vê ali, machucada. A culpa apodera-se de sua alma. Uma mistura confusa de arrependimento e incompreensão surgem, fazendo-lhe sentir um aperto, que lhe sobe da alma e lhe nutre o coração. Sentia-se sujo e culpado. Culpado e sujo.
Baixou os olhos devagar e encostou a cabeça no vidro. Porém, nenhuma lágrima brotou-lhe pelo rosto. Ele chorava. Mas, o pranto corria-lhe pelas veias, percorrendo a alma. Sentiu o ar pesando a sua volta. Uma nuvem escura o envolveu delicadamente.
Levantou os olhos na direção da garota. Pela última vez. E então, o sorriso ardente da culpa, queimou-lhe a alma.

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