21 de fev. de 2010

Pequenas coisas

O relógio branco na parede de madeira velha da cozinha denunciava a demora de Bob. Já haviam se passado dois dias desde que desaparecera de casa. Pobre cãozinho, eu pensava comigo mesma.
Magricelo, com pulgas e um par de orelhas pequeninas. Aquele animal irritante que passara  dias e noites acoando para o nada. Desejara tanto que fosse embora de uma vez, e agora que fora, desejava que voltasse.
Tantas noites imaginei como seria ter um cãozinho de raça e bem cuidado. Com um lindo pêlo liso e amarelado. Como seria confortável dormir com ele!
Bob nunca fora obediente. Era um "menino" de personalidade forte. Não aceitava que lhe colocassem coleira alguma. Não respeitava minha voz autoritária nem minha privacidade. Estava sempre lá, metido onde não devia. As poucas vezes que permitia que lhe dessem banho, eram de intensa alegria e orgulho para nós. Mas isso nunca durava muito. Logo voltava com o fucinho preto de terra e as patas cheias de grama.
Cachorrinho danado! Como eu desejei que fosse diferente... Sempre odiei todas aquelas travessuras que fazia.
Mas agora, naquela agonia de tê-lo perdido, tudo parecia-me tão lindo... Os ossos pela casa, os tapetes na rua, os buracos no jardim. Tudo me parecia uma bela travessura de menino.
Como eu queria que estivesse ali comigo. Como desejava que viesse sujo de lama e sentasse no tapete branco de marca. Como seria maravilhoso se aparecesse ali todo sujo e com cara de culpado...
Percebi então, que tudo aquilo que um dia me deixara aborrecida, agora parecia-me tão suave e doce. Eu estava descobrindo o valor das pequenas coisas do cotidiano.
Um barulho veio da rua. A porta da frente balançava, e de lá vinham alguns latidos. Era Bob. Estava com as patas cobertas de lama e grama sobre meu tapete branco. O fucinho estava coberto de terra, e entre as patinhas havia um dos meus brincos de diamante. Comecei a sentir o calor do ódio subindo pela espinha. Mas então, percebi seus olhinhos brilhavam e seu rabinho abanava. Estava feliz em me ver. Deixei as superficialidades de lado e dei espaço para um abraço gostoso.
Ficamos ali sentados na varanda por um bom tempo. Confesso que foi um dos nossos melhores momentos.

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